terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Um incontornável romance sobre fazer de conta.

Fotografia tirada, durante uma das visitas de Alves Redol às fainas de arroz, 1951

A notícia do dia talvez seja esta , mas está longe de ser inesperada. Não vem desbravar nenhum território de ignorantes nem tampouco é a primeira vez que se ouve falar de algo do género. Embora o ser humano tenha uma memória excepcionalmente curta para o que lhe serve de interesse, em Abril de 2013 morreram, em Daca, cerca de 950 trabalhadores, vítimas das más condições de trabalho e segurança, mas, acima de tudo, vítimas do cinismo dos países desenvolvidos e da sua tolerância à brutalidade nos países emergentes. A teoria de que somos imensamente evoluídos, encontra uma barreira física que se fica pelas linhas da Europa Ocidental, Austrália e alguns países americanos. O resto, como alguém um dia profetizou, é carne para canhão.  
Mostra-se uma indignação flagrante em relação às notícias, porém, como já Tolstói escreveu, continuam-se a cometer os mesmos pecados, a alimentar os mesmos vícios e a tolerar, com ligeireza, o que se passa lá longe. 
Há uns bons anos, em Portugal, cenário retratado com um cruel detalhe na obra prima de Alves Redol - Os Gaibéus -, a labuta dos cidadãos simples, sem instrução, era feita desde o nascer ao pôr do sol. O trabalho matava, enlouquecia e espezinhava a existência humana sem rancores de maior. Se houvesse um ceifeiro rebelde, cortava-se-lhe o sustento e da sua débil família.  O estroina voltava ao trabalho sem piar. Porque a máquina precisava de ser alimentada há 60 anos, como hoje. Crer que participamos de uma sociedade evoluída, com preocupações básicas de fraternidade e igualdade de oportunidades é, para além de vulgar e desprezível, uma incontornável façanha de indivíduos implacáveis, cuja agenda é entorpecer as massas. 
O maior trunfo do ser humano é o conhecimento. Mas saberão utilizá-lo apenas em seu proveito ou, um dia, talvez sob um impulso da evolução, aprenderemos a ser altruístas? 




Sem comentários:

Enviar um comentário